As Palavras seguem a sua Jornada

Os poetas sofrem realmente mais
do que as outras pessoas? Não será
apenas porque tiram fotografias
e são vistos em público a fazer isso?
Os manicómios estão cheios de
quem nunca escreveu um poema.
A maioria dos suicídios não é de
poetas: uma boa estatística.

Alguns dias, porém, quero ainda
ser como as outras pessoas;
e vou então conversar com elas,
com essas pessoas que deveriam ser
outras, são muito parecidos conosco,
excepto que lhes falta o tipo de coisa
que pensamos ser como uma voz.
Dizemos a nós próprios que são mais fracas
do que somos, menos definidas,
que são aquilo que definimos,
que estamos a fazer-lhes um favor,
o que nos faz sentir melhor.
São menos elegantes em relação à dor do que nós.

Mas olha, disse nós. Embora possa odiar-te
como indivíduo, e nunca te querer ver,
embora prefira passar o meu tempo
com dentistas porque aprendo mais,
falei de nós como nós, reunindo-nos
como membros de alguma maldita caravana,

é assim que nos vejo, viajando juntos,
as mulheres veladas e sozinhas, com esse olhar intumescido
e os olhos desviados,
os homens em grupos, com os seus bigodes
e senhas e bravatas
no lugar onde estamos presos, no lugar que escolhemos,
uma peregrinação que tomou a trilha errada
em algum lugar distante e terminou
aqui, em pleno brilho
do sol, e as duras sombras rubro-negras
lançadas por cada pedra, cada árvore morta, sinistra
em suas particularidades, a sua gravidade duplicada, mas flutuando
ainda na auréola de pedra, de árvore,

e não estamos mais condenados do que outros, enquanto
estamos juntos, através deste terreno lunar
onde tudo é seco e perecível e tão
vívido, nas dunas, desaparecendo de vista,
desaparecendo da vista um do outro,
desaparecendo fora da nossa própria vista,
em busca de água.




Margaret Atwood | Selected Poems II
Selected Poems & New 1976-1986
Houghton Mifflin Harcourt, 1987.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa 

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