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Conforme a Heráclito

A cobra é um nome de Deus, disse o meu professor: Toda a natureza é um fogo em que ardemos e somos renovados, uma pele trocada e depois outra. Conversar com o corpo é o que a cobra faz, letra após letra formada na relva, em si uma língua, enrolando os seus hieróglifos terrenos, a luz do sol que a elogia enquanto brilha ali na porta, luz verde a abençoar a casa. Esta é aquela voz a quem poderias orar por respostas para a tua doença: deixa uma tigela de leite, observa-a enquanto bebe mas não rezas, vais buscar a pá, com sangue velho na lâmina, e logo que a agarres, vais segurar essa escuridão que tanto temes transformada em carne e brasas,  um poder frio que se enrola em  torno dos pulsos e estaria onde  esteve sempre, em tuas mãos. Este é aquele sem nome dando a si mesmo nome, um entre muitos e também o seu próprio nome. Sabes isso e ainda a matas. Margaret Atwood | Selected Poems II Selected Poems & New 1976-1986 Houghton Mifflin Harcou

Todo Pão

Todo pão é feito de madeira, esterco de vaca, musgo castanho amontoado, corpos de animais mortos, dentes e espinhas dorsais, o que resta depois dos corvos. Essa sujeira flui através dos caules para o grão, até ao braço, nove golpes de machado, pele de árvore, água límpida que é a primeira presente, quatro horas. Enterro vivo sob um pano húmido, um prato de prata, fileira de barrigas brancas de fome inchadas e tensas no forno, lufadas de hálito quente paradas no calor de um sol antigo. O pão bom tem o gosto salgado das tuas mãos depois dos nove golpes do machado, o gosto salgado da tua boca, tem o cheiro da sua própria pequena morte, das mortes antes e depois. Levanta essas cinzas em tua boca, teu sangue; saber o que devoras é quase como o consagrar. Todo pão deve ser partido para que possa ser partilhado. Juntos comemos esta terra. Margaret Atwood | Selected Poems II Selected Poems & New 1976-1986 Houghton Mifflin Harcourt, 19

Tu começas

Tu começas assim: esta é a tua mão, este é o teu olho, que é um peixe, azul e achatado no papel, quase a forma de um olho. Esta é a tua boca, este é um O ou uma lua, seja o que for de que gostas. Isto é amarelo. Fora da janela é a chuva, verde porque é verão, e para além as árvores e depois o mundo, que é redondo e tem apenas as cores desses nove lápis de cor. Este é o mundo, que é mais cheio e difícil de aprender do que disse. estás certo quando o borras de cor vermelha e depois de laranja: o mundo queima. Após aprender essas palavras aprenderás que há mais palavras do que podes aprender. A palavra mão flutua acima da tua mão como uma pequena nuvem sobre um lago. A palavra não ancora a tua mão nesta mesa, a tua mão é uma pedra quente que seguro entre duas palavras. Esta é a tua mão, estas são as minhas mãos, este é o mundo, que é redondo, e não plano e tem mais cor do que podemos ver. Começa, tem fim, a ele vais regressar,

Poema Nocturno

Nada há a temer, é apenas o vento mudando para leste, é apenas o teu pai       o trovão a tua mãe       a chuva Nesse país de água com a lua húmida como um cogumelo, os cepos afogados e longos pássaros que nadam, onde o musgo cresce em todos os cantos das árvores e a sua sombra não é sombra mas o seu reflexo, os teus verdadeiros pais desaparecem quando a cortina cobre a tua porta. Nós somos os outros, os que vivem debaixo do lago ficando em silêncio ao lado da tua cama com as nossas cabeças das trevas. Viemos para te cobrir com lã vermelha, com lágrimas e sussurros distantes. Balanças nos braços da chuva, a fria arca do teu sono, enquanto esperamos, a tua noite pai e mãe, as nossas mãos frias, a lanterna apagada, sabendo que não somos senão  sombras que oscilam lançadas por uma vela, nesse eco  que ouvirás vinte anos mais tarde. Margaret Atwood | Selected Poems II Selected Poems & New 1976-1986 Houghton Mifflin Harcourt, 1987. Vers

Variações sobre a Palavra Sono

Gostaria de te observar dormindo, o que pode não acontecer. Gostaria de te observar dormindo, gostaria de dormir contigo, para entrar em teu sono enquanto a tua suave onda escura desliza sobre minha cabeça e caminhar contigo por essa brilhante e ondulante floresta de folhas verde-azuladas com o seu sol aquoso & três luas em direcção à caverna onde vais descer, em direcção ao teu pior medo Gostaria de te dar o ramo de prata, a pequena flor branca, a única palavra que irá proteger-te da dor no centro do teu sonho, da dor no centro. Gostaria de seguir-te quando sobes novamente a longa escada & de me transformar no barco que cuidadosamente te levaria de volta, uma chama nas duas mãos em concha para onde o teu corpo está ao meu lado, e entras en mim tão facilmente quanto respiras Gostaria de ser o ar que te habita por um momento apenas. Gostaria de ser tão invisível  & tão necessária. Margaret Atwood | Selected Poems II

O Último Dia

Esse é o último dia da última semana. É Junho, as noites tocam a nossas peles como pelúcia, a serralha adoça o ar pegajoso que pulsa com mariposas, as suas asas em pó e línguas aveludadas. Ao crepúsculo, falcões nocturnos e e vozes sonoras vindas do lago, com os cantos repletos de desova. Tudo se inclina para a lua carnuda. De manhã as galinhas põem ovo após ovo, com casca verrucosa e perfeita; o chão do galinheiro cheio de velha merda e palha de inverno a tremer de moscas, prateadas e verdes. Quem quer abandonar, quem quer que acabe, a água se movendo contra a água, a pele contra a pele? Caminhamos através do sol húmido, para a luz em direcção ao nada, que é oval e cheio. Esse ovo na minha mão é a nossa última refeição, quebras o ovo e o céu fica de novo laranja e o sol nasce de novo e de novo esse é o último dia. Margaret Atwood | Selected Poems II Selected Poems & New 1976-1986 Houghton Mifflin Harcourt, 1987. Versão Portuguesa ©

As Palavras seguem a sua Jornada

Os poetas sofrem realmente mais do que as outras pessoas? Não será apenas porque tiram fotografias e são vistos em público a fazer isso? Os manicómios estão cheios de quem nunca escreveu um poema. A maioria dos suicídios não é de poetas: uma boa estatística. Alguns dias, porém, quero ainda ser como as outras pessoas; e vou então conversar com elas, com essas pessoas que deveriam ser outras, são muito parecidos conosco, excepto que lhes falta o tipo de coisa que pensamos ser como uma voz. Dizemos a nós próprios que são mais fracas do que somos, menos definidas, que são aquilo que definimos, que estamos a fazer-lhes um favor, o que nos faz sentir melhor. São menos elegantes em relação à dor do que nós. Mas olha, disse nós. Embora possa odiar-te como indivíduo, e nunca te querer ver, embora prefira passar o meu tempo com dentistas porque aprendo mais, falei de nós como nós, reunindo-nos como membros de alguma maldita caravana, é assim que n

Interlunar

A escuridão espera por ela, independente de qualquer ocasião; como a tristeza, está sempre disponível. Esta é apenas de um tipo, o tipo em que existem estrelas acima das folhas, brilhantes como pregos de aço e incontáveis ​​e sem se notar. Caminhamos juntos sobre folhas mortas e molhadas na lua intermédia entre as rochas nocturnas iminentes que seriam cinza rosada à luz do dia, roídas e amolecidas por musgos e samambaias, que seriam verdes, no cheiro a mofo de fermento fresco, de árvores apodrecendo, terra regressando a si mesma para si mesma e seguro a tua mão, que tem forma de uma mão se realmente existisses. Desejo mostrar-te a escuridão de que tens tanto medo. Confia em mim. Esta escuridão é um lugar onde podes entrar e estar tão seguro quanto em qualquer lugar; podes colocar um pé na frente do outro e acredita no que vês p'lo canto dos olhos. Memoriza-o. Saberás tudo isso novamente em seu próprio tempo. Quando as aparências das coisas te aban

Nada

Nada como o amor para devolver o sangue à linguagem, a diferença entre a praia e as suas rochas & fragmentos discretos, um disco cuneiforme e a terna letra cursiva das ondas; ovos de peixe líquidos & ósseos, deserto & sapal, um salto verde para além morte. De novo as vogais  aumentam como lábios ou dedos molhados, e os próprios dedos movem-se em redor como que suavizando seixos em redor da pele. O céu não está vazio e ali, tão perto contra os teus olhos, fundido, tão perto que o podes provar. Tem o gosto de sal. O que te toca é tudo aquilo em que tocas. Margaret Atwood | Selected Poems II Selected Poems & New 1976-1986 Houghton Mifflin Harcourt, 1987. Versão Portuguesa ©  Luísa Vinuesa 

Voando dentro do Teu Próprio

Os teus pulmões enchem & abrem, asas de sangue rosa e os teus ossos quando se esvaziam tornam-se ocos. Quando inspiras, sobes como um balão e o teu coração é imenso & leve, batendo de pura alegria, puro hélio. Os ventos brancos do sol sopram por ti, nada existe acima de ti, vês a terra agora como uma jóia oval, radiante & azul marinho com amor. Apenas em sonhos podes fazer isso. Acordando, o teu coração tem o pulso trémulo, uma poeira fina obstrui o ar que respiras; o sol é um peso de cobre quente em linha recta na grossa casca rosada do teu crânio. É sempre o momento antes do disparo. Tentas e tentas subir, mas não consegues. Margaret Atwood | Selected Poems II Selected Poems & New 1976-1986 Houghton Mifflin Harcourt, 1987. Versão Portuguesa ©  Luísa Vinuesa 

Metempsicose

A avó de alguém desliza pelas samambaias, em preto de viúva, graciosa e afiada como sempre: vê como os seus olhos brilham! Quem eras tu quando eras uma cobra? Essa era um bailarina que é agora uma serpentina verde agitada pela própria brisa e aqui está o teu tio listrado e rude, voltou para te aquecer sob as cadeiras de vime na varanda e cuidar de ti. Libertando-se da sua pele moldada, a cobra proclama a ressurreição para todos os crentes embora certos logo se cansem de nascer de novo e renascer; para esses há o respirar que treme na relva amarela, dedo de papel, meio laço, uma convocatória para o rio morto. Quem é esse que está no frio porão com as maçãs e os ratos? De quem é essa voz de casca raspando ao vento? O teu filho perdido sussurrando Mãe , esse filho a mais que nunca tiveste, O filho que dentro a ti quer regressar. Margaret Atwood | Selected Poems II Selected Poems & New 1976-1986 Houghton Mifflin Harcourt, 1987. Versão Portug

Uma Conversa

O homem caminha pela praia do sul com óculos escuros, camisa casual e com duas bonitas mulheres. Ele é um fabricante de máquinas para arrancar as unhas dos pés, enviando choques eléctricos no cérebro ou nos órgãos genitais. Não faz testes ou testemunha, só vende. Minha querida senhora, disse ele: a senhora não conhece essa gente. Nada mais há que possam entender. Que poderia fazer? disse ela. Que faria ele nessa festa? Margaret Atwood | Selected Poems II Selected Poems & New 1976-1986 Houghton Mifflin Harcourt, 1987. Versão Portuguesa ©  Luísa Vinuesa 

Mulher Cobra

Já fui a mulher cobra, a única pessoa, ao que parece, em todo o lado que não as temia. Costumava caçar com dois paus entre a serralha e sob varandas e troncos em busca dessa veia de metal verde e fresco que corria pelos meus dedos como mercúrio ou se transformava numa pulseira dura apertando o meu pulso: Poderia segui-las pelo seu odor, um cheiro enjoativo, ácido e glandular, parte de doninha fedorenta, parte dentro de um estômago rasgado, o cheiro do seu medo. Uma vez agarradas, transportava-as flácidas e aterrorizadas, para a sala de jantar, algo que até os homens temiam. Como me divertia! Põe essa coisa na minha cama e mato-te . Agora, não sei. Agora respeitaria a cobra. Margaret Atwood | Selected Poems II Selected Poems & New 1976-1986 Houghton Mifflin Harcourt, 1987. Versão Portuguesa ©  Luísa Vinuesa 

Salmo à Cobra

Ó cobra, és uma discussão para a poesia: uma mudança entre folhas secas quando não há vento, uma linha fina passando através daquilo que não é tempo, criando o tempo, uma voz dos mortos, oblíqua e silenciosa. Um movimento da esquerda para a direita, desvanecimento. Profeta debaixo de uma pedra. Sei que ali estás mesmo quando não te consigo ver. Vejo a trilha que fazes na areia branca, pela manhã. Vejo o ponto de intersecção, a chicotada através do olho. Vejo a matança. Ó longa palavra, de sangue frio e perfeita. Margaret Atwood | Selected Poems II Selected Poems & New 1976-1986 Houghton Mifflin Harcourt, 1987. Versão Portuguesa ©  Luísa Vinuesa 

O Simples Verso

Os segredos da mente esplendidos reúnem-se, Embora a mente seja tranquila. Estar consciente interiormente do cérebro e da beleza É obscuro e reconhecível. Pensamento ao olhar para o pensamento Faz um olhar: O que será, ambos decidem. Um está sozinho com a mente, O outro está com outros pensamentos desaparecidos Para serem vistos de longe e desconhecidos. Quando abertamente essas visões mais íntimas Brilhem e inteiramente falem, Cada cabeça em casa treme em desespero De nunca estar pronta para se ver a si mesma E vê demasiado cedo um universo. A imensa suposição girando e girando E as cabeças crescem sábias Com sua própria grandeza beatificada No cosmos, e no tamanho idiota Dos crânios soletra a Natureza no chão, Enquanto os ouvidos relatam de modo errado Ecos primeiro, e as palavras antes dos sons Pois a mente, quieta, parece em atraso. Pelos ouvidos as palavras são copiadas em livros, Pelas letras as mentes aprendem a auto-ignorância. Das bocas brotam vo

Sim e Não

Através de um continente imaginário Porque não pode ser descoberto agora Neste planeta totalmente apreendido... Não há mais candidatos considerados, Ai de mim, ai de mim - Correu um animal não zoológico, Sem destino, sem factos, A sua história privada intacta Contra a farsa De uma anatomia. Nem visível nem invisível, Removido pela noite sem dia, Alguma vez voou em seu solo Da fantasia para a luz, No espaço para substituir A sua morte impossível de escrever? Ah, os minutos brilham dentro e fora E entram e saem, vêm e vão Um por um, nenhum por nenhum, O que sabemos, o que não sabemos. Laura Riding poems | Poemhunter.com  The World's Poetry Archive, 2004. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa  

Com o Rosto

Com o rosto vai um espelho Tal como com a mente um mundo. A semelhança diz ao olho duvidoso Que a estranheza não é estranha. Ainda cedo e com conhecimento A identidade ainda não familiar Olha para si mesma, no passado, E parece ser agora ela mesmo. Hoje parece agora. Com a realidade futura, o tempo passa. Com a mente vai um mundo. Com o coração vai um clima. Com o rosto vai um espelho Como acontece com o corpo, um medo. O eu jovem vai olhar para a parede Onde o futuro mudo fala calmo, E entre logo e então A preexistência envelhece. O espelho funde-se com o olho. Em breve será o próprio olho. Em breve o olho que era O próprio espelho será. A morte, a imagem final, brilhará Transparente não de outra forma Senão como o negro sol descreve Com um brilho assaz fatigado. Laura Riding poems | Poemhunter.com  The World's Poetry Archive, 2004. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa  

O Mundo e Eu

Isso não é exactamente o que quero dizer Assim como o sol não é o sol. Como dar um significado mais próximo Se o sol apenas brilha aproximadamente? Que mundo de estranheza! Que instrumentos hostis de sentido! Talvez este seja um significado tão próximo Que talvez em tal conhecimento se torne. Caso contrário, penso que o mundo e eu Devem viver juntos como estranhos e morrer - Um amor azedo, cada um em dúvida se Já representou alguma coisa amar o outro. Não, é melhor que ambos tenham quase a certeza Cada um de sua parte - exactamente onde Exactamente eu e exactamente o mundo Falhámos o encontro por um momento e palavra. Laura Riding poems | Poemhunter.com  The World's Poetry Archive, 2004. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa 

O Recanto do Poeta

Aqui onde o fim do osso não é o fim da canção E a terra está enfeitada com imortalidade No que era poesia E agora está acompanhada pelo orgulho E nacionalidade, Aqui está uma batalha sem bravura Mas se a língua do covarde se calou Espadando o seu próprio pulmão vigoroso. Oiçam se há vitória Em escrever numa biblioteca Agitando os livros em estandartes Enfim, militarmente, para as linhas Vão marchando, livres da alma. E felizmente podem descansar agora Além de qualquer suspeita, os incompreensíveis Traidores em tal conversa Como tagarelam sobre as fronteiras de seus países. Os túmulos são ajardinados e os sussurros Param nas sebes, ouve-se cantar Sobre isso nas fileiras, há um silêncio Onde o chão tem limites E o resto é beleza. Beleza? A morte entende bem disso, Leal a muitas bandeiras, Aliada silenciosa de qualquer país, Acossada no seu mortal coração Com poesia imortal. Laura Riding poems | Poemhunter.com  The World's Poetry Archive, 20

Na Devida Forma

Eu não duvido de ti. Sei que me amas. É um facto do teu rosto interior, Uma verdadeira fantasia da tua musculatura. O teu passo é confiante. O teu olhar é meticuloso. A tua permanência ao meu lado é um travesseiro Para fazer rolar E em cima dormir sozinha. Mas faz-me uma declaração Na devida forma em papel almaço interminável Testemunhada perante um notário E enviada por correio, registado, Para ser assinada ao receber E aberta sob juramento para acreditar; Um papel antigo a faltar no meu cofre, Um elo para agarrar quando o granizo tortura a chaminé E relâmpagos em círculos vermelhos ao redor da cidade, E o teu passo rápido e olhar meticuloso São galantes, mas incircunstanciais, E omitidos num livro de final destruição. Laura Riding poems | Poemhunter.com  The World's Poetry Archive, 2004. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

Última Colina Avistada

Vem, vamos contar às ervas daninhas nas valas Como somos pobres, que já tivemos riquezas, E repousámos em esparsos e encharcados Pastos que as vacas pisaram, Enquanto uma noite de Outono sela Os confortos da vila de madeira. Vem, vamos confessar a certo estranho frio Como buscávamos segurança, e amávamos o perigo. Assim, com paredes rígidas em nossa volta, Escolhemos esse limite ainda mais frágil: Colinas, onde claros choupos, firmes carvalhos, Vão afrouxando um pouco de fumaça. Louise Bogan poems | Poemhunter.com  The World's Poetry Archive, 2004. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa  ___ Adaptação do poema a verso livre.  (NdT)

Chanson un peu Naïf

Que corpo poderia ser arado, Semeado e quebrado anualmente? Mas não morreria, ela jurou, E quase morreu, quase.       Canta, coração canta;       Clama e canta claramente. E, como não poderia morrer, O tratamento seria em vão, Uma película sobre os olhos De dois que junto repousam.       Voa, canta, voa,       Quebra a tua pequena corda. Assim, de uma força oculta Ela se vangloria: A planície é um sulco curado E pode amar-te agora mais.       Chora, canta, chora,       E ouve o teu choro perdido. Louise Bogan poems | Poemhunter.com  The World's Poetry Archive, 2004. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa  ___ Adaptação do poema a verso livre.  (NdT)

Noiva

Colocaste as tuas mãos sobre mim e a tua boca, Disseste o meu nome como uma oração. Aqui onde as árvores são plantadas junto da água Observei os teus olhos, limpos de arrependimento, E os lábios, fechados sobre o que o amor não pode dizer, A minha mãe lembra a agonia do seu ventre E os longos anos que pareciam prometer mais do que isso. Diz: "Não me amas, Não me queres, Partirás." No país para onde vou Não verei o rosto da minha amiga Nem o seu cabelo de relva queimada pelo sol; Juntas não encontraremos A terra em cujas colinas a lua nova volteia No ar cruzado por pássaros. O que pensei do amor? Disse: “É beleza e tristeza”. Pensei que isso me traria delícias perdidas e esplendor Como um vento dos velhos tempos... Mas aqui há apenas noite, E o som dos salgueiros Quando mergulham as longas folhas ovais na água. Louise Bogan poems | Poemhunter.com  The World's Poetry Archive, 20

Retrato

Ela não precisa de temer a queda Quando alcança os socalcos Dos pomares, nem a maré que vaza Da praia íngreme. Nem de se apegar ao desaforo da dor, O baluarte do seu corpo, severo e selvagem, Nem de ser um espelho, onde prever A devastação de outro. O que reuniu e o que perdeu, Não encontrará para de novo perder. Está possuído pelo tempo, quem uma vez Foi amado pelos homens. Louise Bogan poems | Poemhunter.com  The World's Poetry Archive, 2004. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa  ___ Adaptação do poema a verso livre.  (NdT)

O Alquimista

Abrasei a minha vida, para que pudesse obter Uma paixão que da mente inteira fosse, Com o pensar divorciado de olhos e ossos, O êxtase a respirar sozinho. Destruí a minha vida, para buscar alívio Da luz falha de amor e sofrimento. Ao crescer, pereceu o fogo absoluto Carbonizando a existência e desejo. Morreu baixo, a batida cessou repentina. Eu havia encontrado a carne sem mistério - Não é a substância ávida da mente - ainda Que além da vontade apaixonada. Louise Bogan poems | Poemhunter.com  The World's Poetry Archive, 2004. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa  ___ Adaptação do poema a verso livre.  (NdT)

Observação Solitária de uma Estação no Inferno

À meia-noite lágrimas Correm em teus ouvidos. Louise Bogan poems | Poemhunter.com  The World's Poetry Archive, 2004. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa  ___ Adaptação do poema a verso livre.  (NdT)

Conhecimento

Agora que sei Como a paixão pouco se alimenta De carne no molde, E o tesouro é frágil, - Vou repousar e aprender Como acima do seu chão As árvores dão uma longa sombra E um breve som. Louise Bogan poems | Poemhunter.com  The World's Poetry Archive, 2004. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa  ___ Adaptação do poema a verso livre.  (NdT)  

Canção de Juan

Quando a beleza se quebra e se desfaz Não sinto tristeza, mas questiono. Quando o amor, como uma casca frágil, se quebra, Não guardo como lembrança nenhum pedaço. Jamais tive um homem como amigo Que não soubesse que o amor deve findar. Jamis tive uma jovem como amante Que pudesse discernir quando o amor findou. O que o sábio duvida, o tolo acredita - A quem o amor engana? Louise Bogan poems | Poemhunter.com  The World's Poetry Archive, 2004. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa  ___ Adaptação do poema a verso livre.  (NdT) 

Epitáfio para uma Mulher Romântica

Ela alcançou a permanência Sonhou com o lugar onde velhas pedras jazem ao sol. Caules descuidados sopram sobre ela Regular e velozmente como jovens correndo. No coração amou sempre Outros que viveram - ouviu as suas risadas. Ela jaz onde ninguém esteve antes, Onde certamente ninguém a seguirá. Louise Bogan poems | Poemhunter.com  The World's Poetry Archive, 2004. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa  ___ Adaptação do poema a verso livre.  (NdT)  

Cassandra

Para mim, uma tarefa idiota é igual a outra. Descobri os truques vacilantes da luxúria e do orgulho. Esta carne nunca dará uma criança a sua mãe, - A canção, como uma asa, rasga o meu peito, o meu flanco, E a loucura escolhe de novo a minha voz, De novo. Sou a eleita que nenhuma mão salva: O céu gritante ergueu-se sobre os homens, Não a terra muda, onde colocaram suas sepulturas. Louise Bogan poems | Poemhunter.com  The World's Poetry Archive, 2004. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa  ___ Adaptação do poema a verso livre.  (NdT)

Uma Fábula

Há muito que este jovem já ouviu o intervalo Das águas numa terra de mudança. Vai ver o que os sóis podem fazer De um solo mais bizarro e duro. Corta o que mantém juntos seus dias E fecha-o, como o trinco na fechadura: O cata-vento anunciando o tempo, O barulho de um relógio; Buscando, penso, uma luz que espera Ainda como uma lâmpada numa prateleira, – Uma terra com colinas como portões rochosos Onde nenhum mar salta sobre si mesmo. Mas descobrirá que nada ousa Ser duradouro, excepto onde, a sul Dos desertos ocultos, brilhos de fogo rasgados Sobre a beleza com a boca enferrujada, - Onde algo terrível e outro Olham calmamente um para o outro. Louise Bogan poems | Poemhunter.com  The World's Poetry Archive, 2004. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa  __ Adaptação do poema a verso livre.  (NdT)

Além Das Palavras

Essa fileira de pingentes de gelo na goteira Parece o meu arsenal de ódio; E tu, tu... tu, tu falas... Tu esperas! Complete Poems of Robert Frost Holt, Rinehart and Winston, 1964. Versão Portuguesa ©  Luísa Vinuesa ___ Adaptação do poema a verso livre. (NdT)

Poeira Da Neve

Do modo como um corvo Abanou sobre mim A poeira da neve De uma árvore de cicuta Deu ao meu coração Uma mudança de humor E salvou alguma parte De um dia que lamentara. Complete Poems of Robert Frost Holt, Rinehart and Winston, 1964. Versão Portuguesa ©  Luísa Vinuesa ___ Adaptação do poema a verso livre. (NdT)

Tempo Para Conversar

Quando um amigo me chama da estrada E atrasa o seu cavalo para uma caminhada significativa, Não fico parado a olhar em volta Para todas as colinas que não mondei E gritar de onde estou: “O que é?” Não, não porque há um tempo para conversar. Enterro a minha enxada no solo suave, A ponta da lâmina para cima a um metro e meio de altura, E em marcha lenta: subo até ao muro de pedra Para uma visita amigável. Complete Poems of Robert Frost Holt, Rinehart and Winston, 1964. Versão Portuguesa ©  Luísa Vinuesa ___ Adaptação do poema a verso livre. (NdT)

Tempo Suspenso

Foi necessária aquela pausa para fazê-lo perceber Que a montanha que escalava tinha a inclinação Como a de um livro diante dos seus olhos (E era um texto embora feito em planta). Cornel anão, fio de ouro e maianthemum, Depois, tocou-o com os dedos enquanto lia, As flores murchando na semente por vir, Mas o facto era a inclinação que dava à cabeça. O mesmo para a leitura como para o pensamento, Tão diferente do olhar duro e nivelado De inimigos desafiados e batalhas travadas, Era o ar obstinadamente gentil A ser reclamado por qualquer causa e seita Mas que terá o seu momento de reflexão. Complete Poems of Robert Frost Holt, Rinehart and Winston, 1964. Versão Portuguesa ©  Luísa Vinuesa ___ Adaptação do poema a verso livre. (NdT)