Conforme a Heráclito
A cobra é um nome de Deus, disse o meu professor: Toda a natureza é um fogo em que ardemos e somos renovados, uma pele trocada e depois outra. Conversar com o corpo é o que a cobra faz, letra após letra formada na relva, em si uma língua, enrolando os seus hieróglifos terrenos, a luz do sol que a elogia enquanto brilha ali na porta, luz verde a abençoar a casa. Esta é aquela voz a quem poderias orar por respostas para a tua doença: deixa uma tigela de leite, observa-a enquanto bebe mas não rezas, vais buscar a pá, com sangue velho na lâmina, e logo que a agarres, vais segurar essa escuridão que tanto temes transformada em carne e brasas, um poder frio que se enrola em torno dos pulsos e estaria onde esteve sempre, em tuas mãos. Este é aquele sem nome dando a si mesmo nome, um entre muitos e também o seu próprio nome. Sabes isso e ainda a matas. Margaret Atwood | Selected Poems II Selected Poems & New 1976-1986 Houghton Mifflin Harcou