Metempsicose

A avó de alguém desliza pelas samambaias,
em preto de viúva, graciosa
e afiada como sempre: vê como os seus olhos brilham!

Quem eras tu quando eras uma cobra?

Essa era um bailarina que é agora uma
serpentina verde agitada pela própria brisa
e aqui está o teu tio listrado e rude, voltou
para te aquecer sob as cadeiras de vime
na varanda e cuidar de ti.

Libertando-se da sua pele moldada,
a cobra proclama a ressurreição
para todos os crentes

embora certos logo se cansem de nascer
de novo e renascer; para esses há o respirar
que treme na relva amarela,
dedo de papel, meio laço, uma convocatória
para o rio morto.

Quem é esse que está no frio porão
com as maçãs e os ratos? De quem é
essa voz de casca raspando ao vento?
O teu filho perdido sussurrando Mãe,
esse filho a mais que nunca tiveste,
O filho que dentro a ti quer regressar.




Margaret Atwood | Selected Poems II
Selected Poems & New 1976-1986
Houghton Mifflin Harcourt, 1987.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa 

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