Mulher Cobra

Já fui a mulher cobra,

a única pessoa, ao que parece, em todo o lado
que não as temia.

Costumava caçar com dois paus
entre a serralha e sob varandas e troncos
em busca dessa veia de metal verde e fresco
que corria pelos meus dedos como mercúrio
ou se transformava numa pulseira dura
apertando o meu pulso:

Poderia segui-las pelo seu odor,
um cheiro enjoativo, ácido e glandular,
parte de doninha fedorenta, parte dentro
de um estômago rasgado,
o cheiro do seu medo.

Uma vez agarradas, transportava-as
flácidas e aterrorizadas, para a sala de jantar,
algo que até os homens temiam.
Como me divertia!
Põe essa coisa na minha cama e mato-te.

Agora, não sei.
Agora respeitaria a cobra.




Margaret Atwood | Selected Poems II
Selected Poems & New 1976-1986
Houghton Mifflin Harcourt, 1987.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa 

Outros poemas

Memorando

Por Minha Própria Conta

Além de um tempo belicoso, trovejando

Barba Azul

Silêncio

Num Poema

"Senhores Clamam, Paz!"

Acordado, deitei-me nos braços do meu calor e ouvi

"Onde é que vais?" disse o leitor ao cavaleiro

Poema [A Lana Turner]