O Último Dia
Esse é o último dia da última semana.
É Junho, as noites tocam
a nossas peles como pelúcia, a serralha adoça
o ar pegajoso que pulsa
com mariposas, as suas asas em pó e línguas
aveludadas. Ao crepúsculo, falcões nocturnos e
e vozes sonoras vindas do lago, com os cantos
repletos de desova. Tudo
se inclina para a lua carnuda.
De manhã as galinhas
põem ovo após ovo, com casca verrucosa
e perfeita; o chão do galinheiro
cheio de velha merda e palha de inverno
a tremer de moscas, prateadas e verdes.
Quem quer abandonar, quem quer
que acabe, a água se movendo
contra a água, a pele
contra a pele? Caminhamos
através do sol húmido, para
a luz em direcção ao nada, que é oval
e cheio. Esse ovo
na minha mão é a nossa última refeição,
quebras o ovo e o céu
fica de novo laranja e o sol nasce
de novo e de novo esse é o último dia.
Margaret Atwood | Selected Poems II
Selected Poems & New 1976-1986
Houghton Mifflin Harcourt, 1987.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa
É Junho, as noites tocam
a nossas peles como pelúcia, a serralha adoça
o ar pegajoso que pulsa
com mariposas, as suas asas em pó e línguas
aveludadas. Ao crepúsculo, falcões nocturnos e
e vozes sonoras vindas do lago, com os cantos
repletos de desova. Tudo
se inclina para a lua carnuda.
De manhã as galinhas
põem ovo após ovo, com casca verrucosa
e perfeita; o chão do galinheiro
cheio de velha merda e palha de inverno
a tremer de moscas, prateadas e verdes.
Quem quer abandonar, quem quer
que acabe, a água se movendo
contra a água, a pele
contra a pele? Caminhamos
através do sol húmido, para
a luz em direcção ao nada, que é oval
e cheio. Esse ovo
na minha mão é a nossa última refeição,
quebras o ovo e o céu
fica de novo laranja e o sol nasce
de novo e de novo esse é o último dia.
Margaret Atwood | Selected Poems II
Selected Poems & New 1976-1986
Houghton Mifflin Harcourt, 1987.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa