Salmo à Cobra

Ó cobra, és uma discussão
para a poesia:

uma mudança entre folhas secas
quando não há vento,
uma linha fina passando através

daquilo que não é
tempo, criando o tempo,
uma voz dos mortos, oblíqua

e silenciosa. Um movimento
da esquerda para a direita,
desvanecimento. Profeta debaixo de uma pedra.

Sei que ali estás
mesmo quando não te consigo ver.

Vejo a trilha que fazes
na areia branca, pela manhã.

Vejo o ponto
de intersecção, a chicotada
através do olho. Vejo a matança.

Ó longa palavra, de sangue frio e perfeita.




Margaret Atwood | Selected Poems II
Selected Poems & New 1976-1986
Houghton Mifflin Harcourt, 1987.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa 

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