Todo Pão

Todo pão é feito de madeira, esterco
de vaca, musgo castanho amontoado,
corpos de animais mortos, dentes
e espinhas dorsais, o que resta
depois dos corvos. Essa sujeira
flui através dos caules para o grão,
até ao braço, nove golpes
de machado, pele de árvore,
água límpida que é a primeira
presente, quatro horas.

Enterro vivo sob um pano húmido,
um prato de prata, fileira
de barrigas brancas de fome
inchadas e tensas no forno,
lufadas de hálito quente paradas
no calor de um sol antigo.

O pão bom tem o gosto salgado
das tuas mãos depois dos nove
golpes do machado, o gosto
salgado da tua boca, tem o cheiro
da sua própria pequena morte, das
mortes antes e depois.

Levanta essas cinzas
em tua boca, teu sangue;
saber o que devoras é quase
como o consagrar. Todo
pão deve ser partido para que
possa ser partilhado. Juntos
comemos esta terra.




Margaret Atwood | Selected Poems II
Selected Poems & New 1976-1986
Houghton Mifflin Harcourt, 1987.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa 

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