Corrente Corrente Corrente
Trinta anos depois do tempo da virgem:
um sobrinho era o portador
dos anéis, os anéis atados com fitas lisas
sobre a pequena almofada de cetim
em que os levou. Fingindo rezar, observei
formigas rastejndo nos seus sapatos engraxados.
O pastor enumerou quem morrera há muito tempo de cancro.
incluíndo o meu irmão;
nessa manhã chegara drogado, com o cabelo comprido,
óculos de sol à aviador com
lentes ofuscantes; e o cunhado e os sogros,
o meu próprio pai, todos mortos, agora.
A amiga que mais tarde colocaria uma almofada sobre
o rosto e dispararia sobre si através dela,
sabia o que eu queria e enviou-o embrulhado
em papel de talhante:
um vestido de noiva Mexicano, branco sobre branco
bordado, pontos densos,
intrincado - a assinatura da costureira, uma única
madeixa preta do seu cabelo
cosido no jugo do casamento. Foi, de facto, perfeito.
Isto é. O ar de Abril está
mais frio que do nunca. Danço de corrente
em corrente em corrente antes de a tirar
de novo e alimentar com o fogo que acendi
para ela. Havia
um jardim, um jardineiro atento, uma pequena
piscina de cimento, carpas gordas, uma estátua
de uma menina esculpida no seu vestido de pedra,
o seu rosto abstraído pelo musgo.
Claudia Emerson, impossible bottle: poems, Louisiana State University, 2015.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa