Depressa
As suas filhas nasceram depressa, três seguidas,
as duas mais velhas a decepção
comum que a maioria das raparigas é para os pais,
a terceira uma filha de Deus,
disse ela; um estúpido-pássaro, declarou,
lento como uma corrente
através da lama. A casa que nunca deixaria
ficava na rua mais íngreme
da cidade, as raparigas mais velhas aí aprenderam a ser rápidas
em patins e trenós, e depressa
tinham idade suficiente para homens casados, e por tal eram
tão fáceis, rápidas e agradecidas -
sem limpeza, sem lutas, apenas carros e a inclinação
íngreme de uma noite de verão,
e a mentira rápida que uma hora pode ser, a mais astuta
depois de cuidar
dos seus filhos, a estrada onde estacionaram,
a única que tinha todas as curvas -
veados mortos nas valas - e seguiram-na
como se estivessem a arrombar uma casa
só por diversão, como se estivessem a roubar
o ar de outra pessoa, a escuridão de
de outra pessoa, de que nem a mulher mais inteligente
sentirá falta. Eles eram
a sua única selvajaria, e ficava acordada
à espera do sinal do seu regresso,
o fumo de algum homem preso no seu cabelo -
a filha de Deus dormindo profundamente.
Claudia Emerson, impossible bottle: poems, Louisiana State University, 2015.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa