A Mãe e Os Mortos

 

A sua mãe preferia o Ouija para invocar

os mortos, bajulando, arrulhando para


o quadro falante colocado na mesa da cozinha,

para o pequeno portal na prancheta,


as letras que ele percorria formando palavras,

uma lengalenga pouco clara. Ela diz que ouve,


não, sente-os mais facilmente do que isso,

os mortos não identificados,


o meu irmão mais próximo do que era em vida,

mais perto do que quando ela


o carregava, e à sua miséria azul, para

dentro da sua casa - agora é


uma proximidade que não assusta nem pressagia,

a sua chegada é uma coruja


vinda das árvores derrubadas pela noite tão silenciosa

quanto a sua própria sombra,


ou um corpo astral, e ela não

saber se são


as paredes ou a própria distância que se diluem - ou

o mundo - que o permite.




Claudia Emerson, impossible bottle: poems, Louisiana State University, 2015.

Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

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