A Cicatriz
O desmaio de que ela não se consegue lembrar - ou a pancada
do seu rosto contra
a borda da mesa - apenas o despertar, o sangue
no seu olho, na sobrancelha,
o rosto da sua mãe tão próximo do dela
que não a conseguia ver.
A solução: encher o corte com fuligem
do fogão - um rápido
estancamento, a fornalha ainda quente com brasas vivas.
O sangramento pararia,
e a ferida cicatrizaria até ficar – de um pálido
azul, fazendo lembrar
uma pestana tatuada, embelezada como se fosse
algo que ela pudesse ter
escolhido para si própria. Ela não precisa
de me o contar para que eu veja
o calor cintilante de uma manhã, os quartos
da casa - a sua mãe a vê-la
da forma como ela me vê através desse peitoril
indelével de cinzas -
e atrás dele o fogo que deu ao olho-fogão,
a sua aura mais brilhante de sempre.
Claudia Emerson, impossible bottle: poems, Louisiana State University, 2015.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa