O Apagão
Tempestades de Junho e uma greve algures destrói
a casa, a rua, os candeeiros,
toda uma pequena cidade escurecida, o seu deslizamento
rápido numa noite
subitamente ruidosa com chuvas tardias, rãs-árvores,
cigarras, um noitibó -
com a forma como a noite pensa. Um dia, depois dois, o sol
rude como a beleza, e ainda
ela recusa sair de casa. Encharca
os pés na água da torneira,
ela própria com a devoção diária,
o jornal, o seu horóscopo,
dizendo a si mesma que as coisas são
como são, da forma como sempre fez.
A televisão que era
a sua distração do mundo
torna-se o espelho mais vago;
O calor é assombroso,
os talheres e as porcelanas quentes ao toque
como se tivessem saído da máquina de lavar louça.
Será por isso - o seu súbito desespero -
pelo que não pode suportar,
ou pelo facto de não conseguir suportar?
Claudia Emerson, impossible bottle: poems, Louisiana State University, 2015.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa