A Velocidade Da Luz

Tão gradual naqueles verões foi a passagem

da idade parecia que os longos dias que se iniciavam

quando as estrelas desapareceram sobre as montanhas não estavam

a deixar-nos quando os pássaros acordavam a cantar e o orvalho

brilhava nas teias parecia então que a manhã clara

ao abrir-se para o céu era algo nosso

para ter e manter e que o brilho que não poderíamos tocar

e o ar que não conseguíamos segurar esteve lá o tempo todo

para nós e nunca se iria embora e que o eixo

nunca ouvimos dizer que não rodava quando o carro antigo

tossiu no celeiro do carpinteiro e rebolou ecoando

a primeira coisa a entrar em pista e o único tractor

na aldeia retumbou e entrou em seu ferrugentos

murmúrios antes de sair do seu alpendre

no bater leve das vacas e à sombra da tília

não vimos que as andorinhas piscavam e as fagulhas

dos seus gritos eram rápidos nos raios do vazio

a roda que girava e girava levando-nos

a todos juntos com os pneus da carrinha do padeiro

onde as rodas de pão estavam empilhadas como dias em calendários

indo e vindo de uma só vez não ouvimos

a margem da hora em tudo o que estávamos a dizer

ou tocar todo o dia pensávamos que estava ali e ficaria

foi apenas quando a tarde se alongou

no relógio e as sombras se estendiam cada vez mais longe mais longe

de tudo que começamos a ouvir o que

poderia estar a escapar-nos e ouvimos vozes altas a tocar

na aldeia ao pôr do sol a chamar os seus animais para casa

e depois os morcegos após anoitecer e o silêncio na sua estrada






W. S. Merwin poems | Poemhunter.com
The World's Poetry Archive, 2004.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

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