A Última Noite


A doença manteve a sua casa da forma que o inverno

mantinha o jardim, um noivado;


o que tinha sido esquecido no início

manteve-se assim - o pouco que


que lembrava era desconfortável, vago, a superfície

do bebedouro dos pássaros opaca como vidro leitoso,


os amores-perfeitos em colapso brilhante. O correio

recolhido como folhas reunidas pelo vento


nos cantos; livros que abandonara, as páginas

abertas, viradas para baixo, cada um algures


perto de um início. Mas o relógio de sol

manteve-se fluente na luz -


no tempo - e as tardes regressaram lentamente

para ela, tentando abrir bem a janela


como se quisesse um ar mais ameno,

o cotovelo encostado no peitoril,


uma cúspide, onde aprendeu a enganar pássaros

para que confumdissem a sua mão em concha


com o comedoro que tinha pendurado ao lado,

o braço como a fina


coluna de uma vela, e aperfeiçoara

a sua partida para a noite,


a forma como não tremeu sob a chama.




Claudia Emerson, impossible bottle: poems, Louisiana State University, 2015.

Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

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