Acidente no Pasto
Nessa manhã, todos eles atravessaram a pé.
Estavam habituados à sua voz,
a sua mão dela nas suas espinhas, nos seus flancos, os seus dedos
nas suas crinas, nas suas caudas,
a pressão que exercia sobre os pedaços que deixavam
que colocasse nas suas bocas.
Passe a ferro o instante, então, quando se baixou para prender
uma fivela num cobertor -
a física de uma bola de demolição, a parede do casco
e a sola que conhecia melhor
os perímetros deste pasto afundavam-se agora da
mesma forma na profundidade da sua face,
a maçã do rosto, sobrancelha, nariz, testa, maxilar,
a órbita do seu olho
esmagada e com ela esse lado do mundo.
Ficou quase cega,
o sangue já frio e a coagular; através dele
ouviu a erva a mexer,
a arritmia do pastoreio, um suspiro aborrecido.
O nevoeiro dissipou-se e tornou-se chuva;
conseguia distinguir um corvo a beber de uma pegada
de sangue na lama -
como se fosse algo quebrável - o que restava
de um cavalo, de um pasto.
Claudia Emerson, impossible bottle: poems, Louisiana State University, 2015.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa