Maquilhadora da Casa Mortuária

 

O armário dos medicamentos tornou-se nela, o seu rosto

uma pequena porta que abre


e fecha – o seu armazém de curas guardadas,

receitas para a tristeza,


um frasco para si própria na escola de beleza, os cadáveres

para os quais treina - o seu corpo


a parede, a tomada e o ralo. Diariamente

usa um avental largo,


bolsos abertos, transporta um carrinho plástico

rígido - um arsenal organizado


de pequenas tesouras, pinças, uma lâmina de barbear, loções,

e delineadores para os olhos,


para os lábios. O centavo na língua é ideia dela,

pensa, um losango acobreado


não muito diferente da tristeza que saboreia

ao gastar e gastar assim -


esta, sílaba insolúvel.




Claudia Emerson, impossible bottle: poems, Louisiana State University, 2015.

Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

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