Quisto

 

Disse que já tinha feito um aborto e depois

teve um caso com um homem casado,


depois outro, a sua solidão sempre

inquieta, o seu corpo


solitário por algo sem nome como tinham sido,

ou como ela os fez.


Disse que começou por ser pressão, não propriamente dor,

e descobriram do lado de fora


o útero, agarrado a um ovário, tendo

concebido de si mesmo.


Quando o retiraram, disseram-lhe que o podia ver

se quisesse:


apenas uma curiosidade com os dentes, o cabelo e as unhas. Estranho

mas benigno, o médico


disse, quase sempre benigno, acenando na sua direção

como se pudesse concordar


com ele, como se fosse esse o facto,

tudo isso: curioso


erro que um corpo pode cometer.





Claudia Emerson, impossible bottle: poems, Louisiana State University, 2015.

Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

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