deus é um círculo
cujo centro está em toda a parte - que vê a morada do poeta dentro do
mês da Serpente. Aí jaz também a cauda, onde o mal se devora. Carrego
ciclos recorrentes, repetição da paixão e decadência; e tal como ele, não habito
no centro onde tudo é quieto, a morada do santo, mas no anel exterior
onde cada ser vivo brota, floresce e volta a definhar.
A freira que vejo diante dos livro encadernados a preto
senta-se num círculo da sua devoção;
contornando a periferia da mudança
e do movimento, rezando o seu rosário imóvel,
forma um círculo com as suas roupas imaculadas
- todo o vasto mundo entre
a gama do preto e do branco. As dobras brancas pendem
sob a mesa na biblioteca,
o capuz negro curvado
na contemplação do seu Altíssimo;
porém respeito a paixão do livro
para o qual me inclino: a forma como a luz moribunda incide sobre o mogno,
as lâmpadas, de um dia de inverno; como os leitores olham para além dos seus estudos, o tédio,
a luxúria ou medo em espectáculomudo, - congelados nestas atitudes; e como os velhos se sentam
inclinados como um alfaiate de pernas cruzadas (coser a compreensão lentamente através do
sono que deforma a trama dos sentidos).
Sinto a pulsação da circunferência.
Então, quando o meu olhar vagueia, caindo sobre alguma forma provável de partir
o captura, um emblema de deleite (o corpo capturado no esplendor dos membros,
o calor sexual estridente e rouco com a sua agitação na veia),
sinto todas as presas afundarem-se nos meus ossos, o veneno dessa casa onde
habito a corroer-me — e olho para estas freiras calmas, fixas como num friso,
e detesto-as e invejo-as por seu equilíbrio central.
Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033.
Thunder’s Mouth, 2003.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa