da memória, o cofre forte
Da memória, o cofre forte onde os slides de acção são arquivados, camadas de
desgosto se acumulam, o coração nunca poderia limpar o pó, contradizê-lo
- ainda preferimos nunca haver projecção onde o slide sangra como uma boca
esmurrada e roxa; as vozes se elevam da infância como chicotes; lembra-te da rua
onde os teus amigos, brincando, troçavam
desses duetos obscenos que transmitiam a disputa dos teus pais sem vergonha
e feridos; e sangraste e fugiste; essa cena é gelo, está congelada dentro do
cofre forte
cuja chave tentaste perder, mas perdeste-a onde ferozmente a lançarias
para algum vórtice fervente de negação; e foste lançado em vez disso - o
abismo
é mais profundo onde a memória esqueceria.
Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033.
Thunder’s Mouth, 2003.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa