jornada para o fim

 

Ser é melhor do que não ser… - Aristóteles


Os mortos são livres da dor. - Rei Édipo, trad. de W. B. Yeats



No fim desta estrada, o vento uiva sempre descontroladamente. Aqui não há

placas de sinalização. Nem faróis flamejantes acenam em rochas mareadas. Os números

familiares confundem-se. Características estão em falta. Não há nada quente. Apenas a escuridão 

gelada em que a tua mão mergulha como um peixe - e desaparece!

Imagina esta acção, caminhante, como não iniciada.

Estes são os caminhos que perdeste: veias delicadas que nunca transbordaram, te alimentaram,

quentes de fogo impetuoso, a raiva vermelho-dourada, a especial afeição...

Escuta! A coragem do mar, o rugido do fiorde quebrando, fervendo com a sua

música

final! Este é o turbilhão que perdeste,

a escuridão mergulhando atrás da luz; o mar

reuniu-se bruscamente, numa espuma de hélice, numa vaga

em espiral. Ó, o ar é uma vara ardente, um eixo

em que o mar volteia, o perigo do mar

volteia! Tinhas perdido isso. Este gelo... esta escuridão...

- Senhor, não estávamos preparados para a cidade em chamas, a morte pela memória, a morte

pelo desespero. Quem desejou este ar flamejante, esta força e febre? Agora tudo é

febre, medo — e o eixo de ar faz voltear toda a terra em chamas na sua vara ígnea

em que até arde o mar, moribundo!

E onde os grandes pássaros frescos

voam em círculos acima, o céu rola com nuvens

como rochas cinzentas — e diriges-te ao penhasco,

onde o penhasco te conhece e te espera,

enquanto te abeiras em sonhos, como uma pena, voando.




Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033.

Thunder’s Mouth, 2003.

Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

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