natura naturans
O Inverno, com as suas gigantes sugestões de ser definitivo, de empurrar, ousadamente, com novos
significados, chega à hora marcada: ainda que os desprevenidos
nas cidades se amontoem com as suas dúvidas, e mesmo o odor amigável do carbono na
lareira não ajude o cínico, e os momentos estranhos sejam demasiado reais
para os deprimidos nos seus pequenos quartos. Onde os presságios são mais tristes, entre
espirais de aviões que uivam para a morte, o horror agudiza-se, uma pedra
de gelo moldada numa flecha de morte.
Isto aponta, sem crítica, para o cerne de tudo: para a praça fria, para o lago
de brincar com as crianças, os fotógrafos,
para o círculo sob a estátua ignorada, e mesmo no centro morto, o eixo
onde a vida parece mais centrífuga: as ondas nervosas eriçadas do comércio.
E a pergunta repetida da estação, não dita, expressa como se fosse um bêbado nos
olhos enormes e lentos, nos lábios desajeitados, lentos e trémulos, de um continente ferido:
devo ousar recuperar-me?
Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033.
Thunder’s Mouth, 2003.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa