não sou um homem
Não sou um homem. Não consigo ganhar a vida, comprar coisas novas para a minha família.
Tenho acne e um pequeno problema.
Não sou um homem. Não gosto de futebol, boxe e carros.
Gosto de exprimir os meus sentimentos. Até gosto de colocar um braço à volta do ombro do meu amigo.
Não sou um homem. Não vou desempenhar o papel que me foi atribuído - o papel criado pela
Madison Avenue, Playboy, Hollywood e Oliver Cromwell. A televisão
não dita o meu comportamento.
Não sou um homem. Uma vez, quando disparei sobre um esquilo, jurei que nunca mais mataria.
Desisti de comer carne. A visão de sangue deixa-me doente.
Gosto de flores.
Não sou um homem. Fui para a prisão por resistir ao recrutamento. Não luto quando os homens a sério
me espancam e me chamam bicha. Não gosto de violência.
Não sou um homem. Nunca violei uma mulher. Não odeio negros.
Não me emociono quando a bandeira é agitada. Não penso que deva adorar
a América ou deixá-la. Acho que me devia rir dela.
Não sou homem. Nunca tive gonorreia.
Não sou homem. A Playboy não é a minha revista preferida.
Não sou homem. Choro quando estou infeliz.
Não sou homem. Não me sinto superior às mulheres.
Não sou homem. Não uso um suspensório.
Não sou homem. Escrevo poesia.
Não sou homem. Medito sobre a paz e o amor.
Não sou homem. Não te quero destruir.
São Francisco, 1972
Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033.
Thunder’s Mouth, 2003.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa