todos os artauds


Centenas de Rimbauds por todo o lado em cafés lavandarias bares

nos cruzamentos de esquinas exigem reconhecimento imediato falam com

intensidade telepática acabam pedindo esmola

Há mais Rimbauds por hectare quadrado do que Baudelaires no

meio boémio mas quando cheguei ao encontro de leitura de poesia contei distintamente

365 Artauds um por cada dia do ano

A França faz um bom negócio com Artauds

Cada Artaud acusa os outros de serem impostores

cada um exibe cicatrizes no pulso sorri desdentado com desprezo aquilino

ostentando uma loucura fingida como uma medalha Purple Heart

Quando comecei a ler levantaram-se como um só homem e gritaram acusando-me

de pederastia magia negra e feitiços católicos todos os Artauds fizeram um barulho

infernal enquanto mal conseguia continuar

Quando terminou saí trémulo para o meu café preferido e vi-me sozinho

ignorado por cerca de uma dúzia de Artauds no balcão que comunicavam

entre si numa especíe de jargão cabalístico composto por espanhol medieval

académico e iídiche de Bronx

planeando a deposição do Rei do Mundo que era o único

a interpor-se em seu caminho

Rindo alto elogiavam o génio de uns e outros

olhando fixamente para o espelho

onde se viam infinitamente duplicados




Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033.

Thunder’s Mouth, 2003.

Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa 

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