uroboros

 

Come cru quem quer que encontre no caminho, come os pulmões dos homens sábios

contenta-se em viver de corações

alegra-se se puder devorar aqueles que estão a fazer amor

cobiça casais que se espremem contra cartazes na parede do metro

cambaleia pela Mão Esquerda de Deus

abre caminho através do gelo nas ruas

passando por placas de computador e letreiros de cinema

passando por bêbados cambaleantes

traça uma sombra como um patinador artístico

esfrega o pénis contra a própria sombra e jorra do próprio ânus as suas botas fazem um som 

de trituração contra belos dentes jovens ri-se enquanto

parte o crânio de rapazes rasga raparigas ao meio e engole

os seus intestinos o seu rosto reaparece como o de um fantasma nas janelas de edifícios trancados

passa por um homem a lavar o vómito do passeio passa por um homem que urina contra um banco passa por 

um homem a chorar num bar passa por si sem se reconhecer engole-se e engasga-se é 

 aquele que devora o próprio rabo

para si tudo se transforma em comida cospe transpira e vomita

grita chora caga mija e come tudo




Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033.

Thunder’s Mouth, 2003.

Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

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