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Dinosauria, Nós

Nascidos assim No meio disto Quando as caras de giz traçam sorrisos  Quando a Sra. Morte dá gargalhadas Quando os elevadores entram em colapso Quando os cenários políticos se corrompem Quando o rapaz do supermercado possui diploma universitário Quando o peixe de conserva cospe a presa oleosa Quando o sol coloca a sua máscara Somos Nascidos assim No meio disto Nestas guerras cuidadosamente loucas Na visão das janelas de fábrica quebradas de vazio Em bares onde as pessoas já não falam umas com as outras Em lutas com punhos que terminam em tiroteio e facadas Nascidos no meio disto Em hospitais tão caros que é mais barato morrer Entre advogados que cobram tanto que é mais barato alegar-se culpado  Num país onde as prisões estão cheias e os hospícios encerrados  Num lugar onde as turbas promovem tontos a ricos heróis  Nascidos no meio disto Caminhando e vivendo através disto Morrendo por causa disto Calados por causa disto Castrados Debochados ...

deus é um círculo

  cujo centro está em toda a parte - que vê a morada do poeta dentro do mês da Serpente. Aí jaz também a cauda, ​​onde o mal se devora. Carrego ciclos recorrentes, repetição da paixão e decadência; e tal como ele, não habito no centro onde tudo é quieto, a morada do santo, mas no anel exterior onde cada ser vivo brota, floresce e volta a definhar. A freira que vejo diante dos livro encadernados a preto senta-se num círculo da sua devoção; contornando a periferia da mudança e do movimento, rezando o seu rosário imóvel, forma um círculo com as suas roupas imaculadas - todo o vasto mundo entre a gama do preto e do branco. As dobras brancas pendem sob a mesa na biblioteca, o capuz negro curvado na contemplação do seu Altíssimo; porém respeito a paixão do livro para o qual me inclino: a forma como a luz moribunda incide sobre o mogno, as lâmpadas, de um dia de inverno; como os leitores olham para além dos seus estudos, o tédio, a luxúria ou medo em espectáculomudo, -...

para poema - 21

  estou de costas a pingar estrelas de lábios salpicados de espuma num campo de crisântemos flamejantes feras bizarras dançam luas mescalinas derretem em diamantes o selo de salomão explode o rio eléctrico flui riachos de santidade jorram entre as minhas pernas dou à luz um narciso branco seis varinhas brotam do chão folhas de lótus brotam do olho Poema Absoluto como um meteoro cai como um raio esmagado pela Terra num rápido instante correntes flamejantes de rubis inundam o Cosmos indiferente estou a voar para fora do meu sangue mu para poema - 29 Kurope marca o poema 1 dança vigílias loucas no silêncio do espelho vazio geme no mês esquecendo de renascer um fim para as piedades imundas profetas deixa-me beijar a t.ª luz Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033. Thunder’s Mouth, 2003. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa Notas: 1. mu é um conceito do Budismo Zen que significa o vazio, o nada. 2. Kurope na língua drav...

neste parque

  Neste parque, a noite ramificada de lagos, barcos a remos e túneis estende a sua influência sombria que o verão amoroso e gutural, transportado pelas árvores oferece ao marinheiro sensual para que o agarre. Segue todos os caminhos, pois, buscador, tu que és o guia com estrela e quadrante para descobrir a âncora, o amante inabalável. Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033. Thunder’s Mouth, 2003. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

preso em nova iorque

  por olhar para a lua por estar sentado na Praça Washington por usar cabelo comprido por passear o cão por responder a um polícia e dizer "este é um país livre" por comer atum bonita por mascar ipomeias por cheirar algodão-do-paraíso  por se sentar  num banco do metro na posição de lótus por parecer inteligente & escrever este poema madouril 1965 Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033. Thunder’s Mouth, 2003. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

restaurante

  quando num restaurante pedindo champignons à la grecque , a empregada empurra-os para mim com um cheiro a a cabra velha na axila olho para ela & para a sua família camponesa a conversar em sussurros roucos uma tribo um clã presunçoso de nascença ainda colocado e personificado na neve nas ruas nos trottoirs deste  francês  inverno negro eu como sozinho paris/1959 Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033. Thunder’s Mouth, 2003. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

cenário para o anti-herói

  dá-lhe pontapés nas bolas outra vez o pobre coitado magoado não sabe o motivo porque o seu sorriso é real porque está quebrado porque pode sentir dá-lhe pontapés nas bolas outra vez o pobre coitado decente está à procura da verdade porque está sozinho porque fecha os olhos porque vai perder dá-lhe pontapés nas bolas até saltar descontroladamente entre os casais dançando até cair inconsciente do sonho atenas/1964 Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033. Thunder’s Mouth, 2003. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

acreditando no absurdo

escrevendo um poema & sentindo-me absurdo sobre esta actividade inútil fui até à janela & vi uma boina de noz desgrenhada barba de traça bigode à groucho sorrindo resmungando para si próprio olhando para os cartões de felicitações na montra da i mprimerie g tt-le- c œur , de repente, com uma letra rápida na parede, rindo secretamente & abanando a velha cabeça (um solitário excêntrico com um traje sacerdotal coçado & preto) escrever MI4 & tive que ver & corri escada abaixo & li PROCURAMOS RAZÕES RACIONAIS PARA ACREDITAR NO ABSURDO Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033. Thunder’s Mouth, 2003. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

asilo

Girando e girando sob o luar o jaguar a puma e a traça-da-lua giram e redopiam. Gentilmente o sumagre e o ulmeiro em silêncio testemunham como as aranhas tecem teias brilhantes nas grades. ca. 1942 Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033. Thunder’s Mouth, 2003. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa 

palavras sujas

  fracasso irresponsável estranho utópico inconformistapeludopobrezaverdadepessoalpoeta queer emoção negro judeu satori vagabundo faminto sabedoria louca emigré viciado deus silêncio paz liberdade amor atenas/1966 Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033. Thunder’s Mouth, 2003. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

civilização

  Quando leio as páginas de Civilização , de Sir Kenneth Clark recorro invariavelmente a Federico de Montefeltro, Duque de Urbino, pintado por Justus de Gant. O Duque em apuros está sentado com a armadura completa, o elmo ao lado no chão, nas mãos um livro aberto pendendo a fita da página que lê mas preparado para lutar a qualquer momento pela poesia e pela humanidade. Fundou um reino com base nisso. Quando o seu livreiro perguntou: "O que é necessário para governar um Reino?" o Duque respondeu: " Essere umano ." "Ser humano." Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033. Thunder’s Mouth, 2003. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

o negócio da poesia

  o negócio da poesia é a imagem de um jovem a fazer música e amor para uma jovem cujo interesse pelo amor e pela música coincide com um enorme desespero em ambos os seus eus interiores como uma guitarra dedilhada  sob o sol quente e seco da esperança onde homens selvagens e brutais rasgam a vida como uma página de um livro muito antigo e amarelecido Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033. Thunder’s Mouth, 2003. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

americanos

  vejo-te agora assustado mas sem graça uma máscara de várias cabeças com olhos rígidos olhando fixamente através de um capuz branco como uma vez no alabama vi-te com um capacete de aço a construir navios liberty. uma súbita agitação leva-nos da chapa metálica para os tufos de cabelo/carne negra/sangue em canos de chumbo sou arrastado para a multidão grito "pára!" o meu rosto branco invisível perdido no ódio feroz p aris i 1959 Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033. Thunder’s Mouth, 2003. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

sonho americano

  O desejo insaciável de Thomas Wolfe era a fome de um lugar. Sherwood Anderson sentia piedade dos homens e mulheres inarticulados que se magoavam em cada cidade. Em cada cidade, muitos viviam vidas anónimas e sem sentido. Winesburg. Brooklyn. Omaha. Um país inteiro de pessoas deslocadas. Nova Iorque, 1939 Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033. Thunder’s Mouth, 2003. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa

peço aos invisíveis

Peço aos invisíveis Que guiam os nossos pensamentos pelos seus Que transportam as nossas vidas através das terras da morte – Anjos & sábios & agentes celestes - Peço o matrimónio do sol C? a lua No meu duplo-canceroso horóscopo Coragem para me retirar do poço Onde as forças solares não podem entrar Que Pã pare de turvar os meus riachos límpidos - deuses Antigos devem ser trancados - E que o altar magnético Com incenso purifique o ar E que não haja bestas lunares Dançando nos meus bosques Harold Norse, In the Hub of Fiery Force: Collected Poems 1934-2033. Thunder’s Mouth, 2003. Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa